
Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Arla 32 (Anfarla) apontam que até 70% do produto vendido no país é fraudado ou está fora das especificações técnicas. Quando um caminhão utiliza o reagente adulterado, as emissões de NOx podem subir até 40 vezes acima do permitido pelas normas vigentes no Brasil.
Todo o esforço empregado nas indústrias e transportadoras comprometidas com a redução da emissão de gases poluentes pode estar se desmanchando no ar ao longo da malha rodoviária brasileira. Acontece que os avanços obtidos no desenvolvimento de combustíveis e equipamentos criados com o objetivo de reduzir o impacto ambiental causados pelo uso de frotas de caminhões pesados movidos a diesel está esbarrando na ação de uma organização criminosa especializada em adulterar o chamado Arla 32 – um importante insumo utilizado para controlar a liberação de óxidos de nitrogênio (NOx) na atmosfera nos veículos equipados com o Sistema de Redução Catalisadora (SCR).
O cruzamento de dados da fabricação formal do produto com o consumo de diesel comercializado para o transporte terrestre de cargas aponta que até 70% do ARLA 32 vendido no país é fraudado ou está fora das especificações técnicas, conforme alerta do vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Arla 32 (Anfarla), Roberto Roque. Ele concedeu entrevista exclusiva ao blog Cegonheiros do Brasil, lançado oficialmente nesta segunda-feira, 11 de agosto.

Segundo o dirigente da entidade, sete em cada dez litros de diesel utilizados por caminhões pesados podem estar comprometidos. O Arla 32 é uma solução aquosa com uma concentração de 32,5% de ureia técnica de alta pureza diluída em água desmineralizada, conforme prevê a NBR (Norma Brasileira) ISO 22.241. O Agente Redutor Líquido de Óxidos de Nitrogênio Automotivo, ou simplesmente Arla 32, é necessário para garantir a alta performance de duas tecnologias embarcadas em caminhões pesados: o Catalisador de Redução Seletiva (SCR) e o sistema EGR, responsável pela recirculação de gases de escapamento e pela filtragem de material particulado. Os caminhões têm reservatório específico para o produto, que só é misturado ao diesel à medida que os quilômetros são percorridos.
A Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) ressalta que a presença de impurezas no Arla 32 afeta o catalisador, aumenta o consumo de diesel e reduz o desempenho do veículo. A substituição desse sistema pode ultrapassar o valor de R$ 50 mil por caminhão.
Quando um caminhão utiliza um produto adulterado, as emissões de NOx podem subir até 40 vezes acima do permitido pela norma vigente no Brasil. Dados divulgados pela Anfarla indicam que o nível ideal de emissão com o uso correto do ARLA 32 é de até 2 gramas de NOx por quilômetro rodado, conforme os limites do PROCONVE P-7. Com o produto fraudado ou ausência deste, a emissão pode ultrapassar os 80 g/km.
“Na prática, um único caminhão irregular pode poluir o equivalente a uma frota de 40 veículos operando dentro dos padrões”, aponta Roque.
Ele arremata:
”Isso compromete todo o esforço nacional de controle de emissões veiculares, além de ser um crime ambiental.”
Indústria formal perde R$ 800 milhões por ano com a falsificação
Além dos prejuízos ao meio ambiente e ao bolso dos transportadores, o impacto direto causado pela produção e distribuição do Arla 32 fraudado gira em torno de R$ 800 milhões por ano em perda no faturamento da indústria formal. A cifra também contempla os estragos causados pela competição desleal.
Roque explica:
“O produto adulterado pode ser vendido até 50% mais barato que o verdadeiro. Em alguns casos extremos, identificamos vendas com preço inferior de até R$ 1,50 por litro, se comparado ao produto genuíno. Isso inviabiliza economicamente um fabricante legalizado que segue todas as normas técnicas, ambientais e fiscais.”
Em pontos de venda legalizados o preço do litro do Arla 32 fica entre R$ 2,55 e R$ 3,65. Em média, para cada 100 litros de diesel são necessários cinco ou seis litros de Arla 32. Em uma viagem longa com 1.000 litros de diesel, o consumo médio seria de 50 a 60 litros de ARLA 32, resultando num custo de R$ 150 a R$ 220.
Roque destaca:
“A diferença de preço é um forte indício de irregularidade. Produtos vendidos a valores muito abaixo do mercado são produzidos com ureia agrícola, além de não cumprir com a função necessária para o bom funcionamento do veículo, o falso Arla 32 pode envolver o consumidor em um crime ambiental.”
Ureia agrícola
Para coibir o uso de ureia agrícola, a Anfarla luta pela criação de um NCM exclusivo para ureia automotiva, o que permitiria maior controle sobre a matéria-prima e dificultaria o desvio da ureia agrícola para o mercado automotivo. O NCM é um código usado para identificar a natureza de produtos comercializados no Brasil e nos outros países do Mercosul.
Segundo Roque, a cadeia paralela que produz, embala e distribui ARLA 32 adulterado não é pequena. O negócio ilegal conta com estrutura criminosa e bem organizada, com atuação nacional.
O vice-presidente da Anfarla acrescenta:
“Nosso compromisso é com a qualidade, a responsabilidade ambiental e o respeito ao transportador brasileiro, que não pode continuar arcando com os custos da impunidade.”
Para evitar multas e garantir o bom funcionamento do veículo, Roque orienta os consumidores a tomarem os seguintes cuidados na hora de comprar o Arla 32:
- Verificar o registro do InMetro.
- Certificar-se que os lacres estão intactos.
- O rótulo deve conter data de validade, CNPJ do fabricante e demais exigências legais.
- Aferir a qualidade do produto por meios de testagens rápidas.
Essa testagem já está sendo adotada por autoridades federais, estaduais e municipais para reforçar a fiscalização e rastrear a origem da ilegalidade. Agora o consumidor pode fazê-la em apenas três minutos. (Confira a matéria a seguir clicando aqui.)
Foto: Agência Brasil/arquivo.